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7 de setembro: acordo das elites mantém como herança privilégios às custas da miséria do povo

07/09/2022

Modelo resulta em superexploração da classe trabalhadora, com salários baixos e falta de acesso a serviços essenciais, cenário que não será revertido com compensações a partir das sobras, com medidas fragmentárias, mas com mudanças estruturais

O 7 de setembro, marcado como o dia da Proclamação da Independência do Brasil, faz 200 anos em 2022. Dois séculos de uma herança que mantém privilégios de ricos e nega direitos básicos à classe trabalhadora, promovendo a superexploração de seu trabalho e lançando milhões de pessoas na extrema-pobreza e ao flagelo da fome.

O presidente da Abepss, Rodrigo Teixeira, ressalta que o 7 de setembro, no ano do bicentenário da independência, é um momento de reflexão para todas/os/es. “É um momento de nos perguntarmos: qual independência? Quando temos uma democracia em risco, quando temos milhares de desempregadas/os/es e pessoas passando fome, sendo as populações negras, pauperizadas e periféricas as que mais sofrem. Que independência se nossos povos originários são perseguidos, mortos e não tem condições de reproduzir sua cultura e as particularidades de suas tradições?”.

O historiador e sociólogo Mauro Iasi lembra que o processo de independência do Brasil da então Coroa Portuguesa marca uma característica típica brasileira, que são as decisões tomadas “pelo alto”. O filho do rei de Portugal, Dom Pedro I, proclama a independência, mas mantém os vínculos com o país europeu, inaugurando o primeiro reinado no Brasil.

“Então houve uma transição de uma dependência colonial para uma dependência imperialista submetendo o país à Inglaterra e depois aos Estados Unidos. Isso veio acompanhado de profunda dependência econômica e política. O Brasil assumiu uma dívida com Portugal no processo. O lugar de subordinação do Brasil no capitalismo já estava sendo dado. Não tivemos independência econômica, social. Está na raiz do país e essas heranças continuam. Há subserviência dos governos brasileiros por meio de uma aliança das classes dominantes daqui com interesses imperialistas de outros países. Esse modelo é lucrativo para as camadas dominantes do Brasil que são oligarquias ligadas ao grande capital monopolista internacional”, explicou.

Nessa perspectiva, o presidente da Abepss, Rodrigo Teixiera, acrescenta que o 7 de setembro de 2022 simboliza um campo de disputa entre aqueles que defendem a democracia e aqueles que defendem mais um golpe tramado entre a elite brasileira. “Mais um golpe nesse país já repleto de golpes em sua história. Tais golpes só reproduzem os privilégios de uma burguesia branca, dependente do capital internacional e que se valoriza na exploração do trabalho alheio. Passamos por um momento muito deliciado. As eleições que se aproximam colocam a necessidade de juntarmos as pautas progressistas em nome da defesa da democracia, contra o obscurantismo, o neofascismo, e toda forma de preconceito”, alertou.

Subordinação

Mauro Iasi, que também é professor do Programa de Pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSS-UFRJ), salienta que uma postura soberana estabeleceria patamares para a subordinação do Brasil no sistema capitalista, até pela importância que o país tem na América Latina. Mas essa postura nunca foi de interesse das camadas dominantes locais.

“A base para pensar essa soberania seriam as alianças no campo da própria América Latina e também nos BRICS (grupo de grandes países emergentes), buscando alternativas na geopolítica mundial para negociar em melhores condições com Estados Unidos e União Europeia. O custo social de não fazer isso é alto. Esse custo social não é sina e nem uma questão geográfica. É a expressão de uma dominação em que os dominantes são franca minoria e partilham isso com o centro do sistema global. Apenas 20% da população estão no G7 (grupo dos países mais ricos do planeta), mas detêm 80% das riquezas. Há uma parceria entre as minorias ricas locais brasileiras e esse centro global”, disse.

Otimismo

Na prática, o modelo resulta em superexploração da classe trabalhadora, com salários baixos e falta de acesso a serviços essenciais. O professor Mauro Iasi defende que é possível reverter o cenário, mas não pensando em compensação a partir das sobras, com medidas fragmentárias. “É preciso que haja mudanças estruturais para a superação do abismo social e da dependência a que estamos submetidos até hoje. Sou otimista na perspectiva do futuro. São condições históricas que serão superadas. Mas no curto prazo, eles são muito fortes economicamente, politicamente e militarmente. A independência dos povos esbarra na visão de que os territórios que habitamos são terra de exploração e saque. Como o Brasil é muito importante, aqui o capital influi com muito mais força. Não estamos integrados com nossos vizinhos latinos e deveríamos reforçar a integração com eles. O inimigo é comum. Precisamos nos unir”.

O historiador lembra que todos os impérios têm a pretensão de serem eternos. “Mas todos entraram em decadência. Os EUA iniciaram a decadência há algum tempo. O país se mantém hegemônico militarmente num cenário de crise mundial. E não vai se esfacelar por si. O modo de produção que atingiu seu vigor máximo nos anos 70 entrou em recessão e decadência, e hoje é mantido pela força militar e econômica, e pela violência contra as/os trabalhadoras/es. Mas aconteceram mudanças significativas na geopolítica e isso abriu brechas, rachaduras. E elas podem produzir circunstâncias em que os povos possam se levantar e transformar essa realidade”.

Serviço Social

Para o professor Mauro Iasi, o Serviço Social sai com vantagem no debate sobre a superação desses problemas porque possui uma capacidade de reflexão teórica e prática compreendendo que as mazelas que atingem a população são uma manifestação da Questão Social.

“Há uma profunda dependência que nos marca. Precisamos de políticas públicas e conquista e garantia de direitos. É preciso denunciar a ordem estabelecida e intervir na política, na disputa pelo fundo público. E o Serviço Social tem uma produção que ajuda a compreender nossa formação social e o estado de dependência em cada um de nós. O conservador age com a perspectiva de adequação dos marginalizados à ordem que os marginaliza. Nós agimos com a perspectiva de transformar essa ordem”.

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