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Pesquisa da Enesso revela falta de garantia de acesso ao ensino remoto e de segurança no estágio

30/09/2021

Entre os principais desafios para estagiárias/os está a não garantia de EPIs por parte dos campos de estágio ou da instituição de ensino, ficando a cargo dos/as estudantes providenciar os equipamentos para terem o mínimo de segurança

Uma pesquisa realizada pela Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (Enesso), da qual participaram estudantes de Serviço Social de todo o Brasil, revelou que 46,3% das/os discentes afirmam que as Unidades de Formação Acadêmica (UFAs) não estabeleceram nenhum diálogo com elas/eles antes de aderir ao ensino remoto emergencial. Além disso, 33,7% relataram não haver nenhuma política de permanência que garanta o acesso das/os alunas/os aos equipamentos necessários (computadores, internet, etc.). Os dados da pesquisa resultaram no “Relatório Nacional de Estágio: reflexões a partir do Formulário acerca da Situação do Estágio em Serviço Social durante a pandemia”.

De acordo com Larissa de Souza, estudante de graduação em Serviço Social na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenadora nacional da Enesso, além da falta de debate na implementação, há UFAs que não estão observando o desenvolvimento dessa modalidade de ensino por meio de avaliações que possibilitam acompanhar o ensino remoto emergencial nas diferentes realidades. “Ou seja, além de não sermos ouvidas no processo de adesão a essa modalidade, também não nos é garantido o mínimo para conseguir manter a formação nesse momento”.

Clique aqui e confira a íntegra dos dados disponíveis do “Relatório Nacional de Estágio: reflexões a partir do Formulário acerca da Situação do Estágio em Serviço Social durante a pandemia”.

Estágios

Com relação aos estágios, Larissa de Souza salienta que quase metade dos/as estudantes respondeu não conhecer ou conhecer apenas parcialmente as legislações sobre o estágio no âmbito do Serviço Social. “Isso demonstra fragilidades que perpassam também a formação profissional, pois como estudantes, vão a campo sem conhecer a natureza da atividade de estágio e a importância da supervisão e dos direitos que essas legislações preconizam às/aos próprios estagiárias/os”.

A discente destaca que os dados preliminares da pesquisa, ainda sob análise, apontam que os principais desafios para estagiárias/os são a não garantia de EPIs por parte dos campos de estágio ou da instituição de ensino, ficando a cargo dos/as estudantes providenciar os equipamentos para terem o mínimo de segurança. Quanto à vacinação, um número significativo das/os participantes da pesquisa respondeu que recebeu a vacina por fazer parte de um dos grupos prioritários ou por estar na sua faixa etária. A vacinação em decorrência de estarem no campo de estágio é baixa e ainda existem estudantes realizando estágio presencial sem terem recebido a vacina.

“Nas perguntas abertas, em que as respostas não eram de múltipla escolha, identificamos a falta de diálogo entre as instituições de ensino e os campos de estágio, bem como das instituições com as/os estudantes, destacando o atraso que se teve na graduação por conta da não realização de estágio supervisionado nesse período, dificultando a permanência das/dos discentes na universidade. No caso de bolsistas, os relatos refletem que nunca pararam de realizar o estágio, seja de forma presencial ou remota, ficando sob sua responsabilidade a garantia de EPIs e a maioria realizando estágio durante o ano passado inteiro e grande parte desse ano sem a perspectiva de receber vacina mesmo com a alta exposição no campo de estágio. Além disso, apenas cerca de 1/5 recebem bolsa, ou seja, a maioria lida com sobrecarga e com a necessidade de conseguir conciliar aulas, as horas de estágio obrigatório com o trabalho ou buscar outras alternativas de renda para se manter”, explicou.

Larissa de Souza ressalta, ainda, que é preciso pensar nos impactos da realização de estágio remoto na formação de assistentes sociais, com o objetivo de minimizá-los se possível, e garantir que essa modalidade não seja aceita fora do contexto de risco à vida das/os estudantes e profissionais da educação.

Formação

Ana Carla da Costa, que também é estudante do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), e já foi representante discente nacional na ABEPSS, lembra que o Estágio Obrigatório é fundamental para a formação profissional. “Antes mesmo da pandemia já estávamos discutindo em diversos espaços os desafios. Quando nos deparamos com a crise sanitária, esses desafios se multiplicaram, e a discussão ficou ainda mais densa, pois na época a maioria das instituições estava discutindo sobre a Oferta do Estágio Supervisionado Obrigatório, e algumas ainda nem estavam discutindo. Foi então que essa discussão foi priorizada e a Enesso realizou a pesquisa”.

A estudante ressalta um trecho do relatório da pesquisa: “Outro dado expressivo, por parte das estudantes, é a denúncia das condições éticas e técnicas de realização do estágio, identificadas em sua maioria como parcialmente satisfatórias ou não satisfatórias. Este ponto, inclusive, merece maior estudo nos próximos levantamentos, para conhecermos melhor as condições enfrentadas pelas/os estagiárias/os no dia-a-dia do estágio, que podem apontar, muito provavelmente, para uma grande precarização deste momento formativo, quadro muito relacionado ao desmonte das políticas públicas e à deterioração das condições de trabalho da/o assistente social”.

Ela acredita que as questões apontadas neste trecho do relatório, a partir das respostas dadas pelas/os entrevistadas/os, merecem atenção por parte de todos os atores envolvidos na formação profissional, considerando também a realidade social esperada para o pós-pandemia.

A pesquisa

O Formulário da pesquisa foi veiculado nacionalmente e teve 341 respostas. Elas foram organizadas por regiões (de acordo com a divisão da Enesso):
A estudante de Serviço Social Larissa de Souza considerou o número baixo na relação com o número de estudantes de Serviço Social em todo o Brasil. “Mas é importante para termos uma noção sobre como está a situação. A própria baixa adesão reflete os desafios de conseguir alcançar as/os estudantes por esses contatos virtuais. Também tivemos uma grande diferença no número de respostas por região. Pretendemos elaborar um relatório analisando esses dados nacionais e as particularidades por região para que possamos usá-los como base para dialogar com as/os estudantes, com as instituições de ensino e as demais entidades da categoria, seja nos espaços dos fóruns regionais de formação ou nos fóruns locais de estágio. A ideia é que a gente tenha um parâmetro para buscar alternativas que prejudiquem menos as/os discentes no processo formativo. Pretendemos, também, comparar esses dados com o relatório elaborado em 2020 e ter uma noção do quanto avançamos em um ano”.

A estudante de Serviço Social Ana Carla da Costa lembra que o objetivo da pesquisa é entender os desafios impostos às/aos estudantes. Ela ressalta a disparidade na quantidade de resposta das regiões, pois houve mais adesão de estudantes das regiões sudeste e sul.

“O próximo passo depois dessa pesquisa e divulgação dos resultados, é a construção de um novo formulário para entendermos e analisarmos quais questões continuam tendo o mesmo retorno e quais mudaram os resultados. Creio que soluções são pensadas coletivamente, com envolvimento das entidades da categoria e de todo o Movimento Estudantil do Serviço Social, com a realização de debates, fóruns de estágio, etc., para discutir todas as questões que são e serão apresentadas a partir dessas pesquisas”, concluiu.

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