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3 anos sem Marielle: respostas sobre assassinato se relacionam com a luta pela liberdade

13/03/2021

Saber quem mandou matar Marielle e Anderson está relacionado com objetivos do projeto ético-político do Serviço Social como a construção de uma sociedade justa, equânime, livre de exploração e de opressão  

Nesse domingo, 14, serão completados três anos dos assassinatos brutais de Marielle Franco e Anderson Pedro Gomes, ocorrido no Rio de Janeiro. O carro em que estavam foi alvo de 13 tiros. Depois de todo esse tempo a pergunta que ainda continua sem resposta é: quem mandou matar Marielle? A ABEPSS faz coro com outras inúmeras entidades e milhões de pessoas em todo o mundo em busca de respostas.

Marielle Franco era mulher, negra, mãe, LGBTQI+, criada na favela da Maré. Socióloga, com mestrado em Administração Pública, ela foi eleita vereadora na cidade do Rio de Janeiro com 46.502 votos e presidiu a Comissão da Mulher no legislativo municipal.

Sua chegada à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro foi precedida por uma trajetória de luta em movimentos sociais e na universidade. Marielle se formou pela PUC-Rio, e fez mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF) onde produziu e defendeu a dissertação “UPP: a redução da favela a três letras”. Trabalhou em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm). Coordenou, ainda, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e construía diversos coletivos e movimentos feministas, negros e de favelas.

A ABEPSS entende que a luta por Justiça para Marielle e Anderson, que dirigia o carro, vai muito além da elucidação de dois assassinatos bárbaros. A busca por respostas sobre o que aconteceu estão relacionadas com a construção do projeto ético-político do Serviço Social, que tem como objetivo a construção de uma sociedade justa, equânime, livre de exploração e opressão, e, sobretudo, uma sociedade em que a liberdade e a vida humana sejam garantidas.

Luta social

Sheila Dias, assistente social, professora do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), e suplente na atual gestão da ABEPSS, explica que a bandeira de luta de Marielle buscava a construção de diálogos com o povo marginalizado e violentado pelas ações do Estado no Rio de Janeiro, que são praticadas pro meio de sua Polícia Militar.

“Essas ações resultam na morte de jovens negros de periferias. Marielle, como mulher oriunda de favela, fez disso uma bandeira de luta. Também estavam na sua agenda as causas LGTBQI+ e as demandas das mães que perderam seus filhos na guerra às drogas. Ela tinha assumido a presidência da CPI das Milícias na Câmara Municipal. Todas essas bandeiras são importantes para o Serviço Social e estão expressas no nosso Código de Ética, numa perspectiva de enxergar o outro em sua totalidade. Cada indivíduo é composto por culturas diversas. Somos diversos e múltiplos. No entanto, as diferenças não podem ser colocadas como justificativa para a desigualdade e essa era uma das bandeiras de luta de Marielle como pessoa política e na sua singularidade”, disse.

Sheila considera que Marielle emerge em meio a uma conjuntura de crise política que se desenhou desde 2008, decorrente da crise do capitalismo que resultou em uma ofensiva neoliberal com retirada dos direitos sociais da população. Esse cenário teve como resposta um período de luta social, não apenas no Brasil.

“Algumas lideranças se destacaram nesse período, entre elas Marielle, a partir de sua inserção política em sua comunidade e na universidade. Desde lá, assistimos a um processo de precarização de vida dos trabalhadores, com terceirização, desregulamentação do trabalho e criminalização dos movimentos sociais. Com isso, houve o crescimento do fascismo, das violências contra a população LGBTQI+, contra mulheres negras e periféricas, e contra a classe trabalhadora em geral. Marielle representava esse indivíduo que compõe uma coletividade, em contraponto ao individualismo do capitalismo”, explicou.

Ainda segundo Sheila, a morte de Marielle tem relação com essa figura política que ela representava e que aglutinava este grupo político vítima dessas violências. “O homicídio foi um recado para as novas lideranças e para as organizações que estavam surgindo porque estávamos indo às ruas numa retomada da própria democracia. O medo foi colocado como barreira ao avanço do que estava acontecendo. Mas muitas Marielles brotaram nas eleições de 2020. E não houve o apagamento objetivado por quem mandou matá-la. Mas, enquanto não houver uma resposta oficial sobre quem mandou matar a Marielle, continuaremos cobrando”.

Instituto

Hoje, o Instituto Marielle Franco, criado pela sua família, tem a missão de inspirar, conectar e potencializar milhares de jovens, negras/os, LGBTQIA+ e periféricas/os a seguirem movendo as estruturas da sociedade. Clique aqui e acesse o site do Instituto Marielle Franco.

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