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25 de julho: o desafio de construir outras narrativas a partir do olhar das mulheres negras

25/07/2022

Elas seguem na base da pirâmide social e sofrem a chamada dupla opressão, de gênero e de raça, enfrentando o desafio de fazer com que esse olhar interseccional esteja presente nas políticas públicas

Lembrar e promover o debate a partir de uma data como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha (25 de julho) é importante por evidenciar a interseccionalidade e as demandas específicas das mulheres negras, uma vez que datas que eram hegemônicas, como o Dia Internacional da Mulher (8 de março), não abarcam questões importantes para essa população como as opressões de raça, entre outras, produzidas pelo capitalismo na luta de classes.

Fernanda Izidio de Oliveira Cimino, especialista em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global, lembra que a mulher negra segue na base da pirâmide social e sofre a chamada dupla opressão, de gênero e de raça, e que o chamado feminismo branco não trata adequadamente dessas questões. “Acredito que o maior desafio é fazer com que esse olhar interseccional esteja presente nas políticas públicas, na divulgação das informações e no debate social”.

Para Fernanda, que também é autora de "Um manual para chamar de Nosso" (manual para promover a diversidade e a inclusão na educação, publicado no Portal Geledés), é importante ressaltar que sempre foi muito difícil avançar nas políticas públicas de proteção dos direitos das mulheres negras.

“Entretanto, desde 2018 houve uma significativa piora. A luta tem sido para manter os direitos já adquiridos, uma vez que o atual (des)governo não apenas viola direitos já garantidos como incita o ódio e a violência aos grupos historicamente oprimidos, incluindo as mulheres negras. Resistência é a arte mais antiga do nosso povo, que por 300 anos criou estratégias contra a escravização e extermínio dos corpos negros”, disse.

A conjuntura atual, com a extrema-direita no poder e o bolsonarismo povoando as subjetividades no Brasil, não é favorável, mas cada vez mais mulheres negras ocupam espaços, fazendo-se ouvir e escrevendo a história a partir de outra perspectiva. Fernanda Izidio de Oliveira Cimino, explica que esse movimento “promove o aumento da consciência racial e a construção de outras narrativas possíveis para as mulheres negras, principalmente para as novas gerações”.

Serviço Social

A formação em Serviço Social tem papel importante nesse processo e precisa se configurar como aliada das mulheres negras e suas pautas, reafirmando o compromisso ético-politico da Abepss. É indispensável lembrar e enfatizar esta data, além de chamar todas e todos à reflexão a partir dela considerando a dupla opressão (gênero e raça) que essas mulheres enfrentam e o apagamento dessa realidade nos mais variados espaços.

Assistentes sociais precisam estar preparadas/os para atuar a partir de uma leitura crítica da realidade, uma vez que estão na ponta das políticas públicas ofertadas à população. Sendo assim, precisam compreender o impacto da interseccionalidade na questão social para uma luta cotidiana anticapitalista e contra todas as suas formas de opressão.
 

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